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27.2.03

UE vs USA

Temos sido grandes amigos, mas andamos às turras:
- em assuntos comerciais
- na defesa europeia

Quem não está conosco está contra nós? [não fui eu que disse]

Algumas considerações em relação ao Reino Unido.
A França não se tem portado bem desde a segunda guerra, nem na construção europeia (supostamente o seu melhor, ainda que irregularmente), e a situação actual da PAC, o atraso de liberalização de alguns dos seus mercados, ou a prepotência por vezes demonstrada pelos seus líderes são exemplos claros disso. Mas o síndroma “hey, nós também somos uma super-potência” também se tem verificado no Reino Unido, que ainda não ultrapassou o falhanço da Commonwealth (ainda hoje recebem um montante compensatório por terem perdido relações preferenciais com a adesão, vejam lá...). Sindroma que tem sido manifestado na posição “pró-europeísta” do Reino Unido - a tradição é de crítica “construtiva” mas de decisões mais ou menos isoladas. O que é realmente estranho é haver polémica quando Freitas Do Amaral diz que o Reino Unido deveria sair da União. A verdade é que, olhando para uma larga conjugação de factores vemos grande diferenças: Churchill; os objectivos estratégicos do país; a tradição política (unwritten constitution); a desconfiança popular em relação à União Europeia (veja-se afluência às urnas para a eleição do Parlamento Europeu – 23%, cerca de metade da média europeia); a continuação do processo de integração ao arrepio dos desejos e posições britânicas* (é cada vez mais difícil esconder estes interesses distintos, ainda que devam ser amenizados durante uns anos com a adesão de tantos estados-membros). Tomando em conta tudo isto é impossível não pensar que eles encaixavam bem melhor na NAFTA. Até se podia manter o nome, afinal de contas fez-se algo similar com a NATO.
Quanto à NATO, a matéria é sensível e daí a desconfiança americana. A verdade é que perdeu grande parte da legitimidade com a queda do bloco soviético e perderá ainda mais com a crescente coordenção com vista a uma cooperação de segurança militar europeia. Mas vai acontecer, os países europeus vão abandonar a NATO para constituir outra organização de defesa, que preferencialmente estará formalmente ligada a esta e que na pior das hipóteses será “apenas” aliada desta.
Tenho lido alguns textos preocupantes referindo que já há nos EUA quem olhe para a União Europeia com desconfiança, textos em que «os aliados de hoje podem ser os inimigos de amanhã». Isto permitiria explicar (pelo menos contextualizar) o interesse americano no Iraque (recursos no longo prazo) mas não deveria minar as relações trans-atlânticas. Ou seja, a Europa vai continuar a crescer e tornar-se-à uma potência, ainda que menor que os EUA. Mas estes dois blocos regionais terão mais a perder que a ganhar se começarem a tomar posições antagónicas. Até porque ambas têm um possível adversário bem mais assustador, que vai crescendo silenciosamente a leste.

*é curioso pensar que eles pensavam atrasar a integração ao propor antes uma estratégia de alargamento na década de 90