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12.6.03

A pobreza na televisão

Uma das críticas mais certeiras que podemos encontrar em Bowling for Columbine é a excessiva mediatização do medo por parte dos media americanos. Seja a season of the shark, as killer bees, as cobras, a delinquência juvenil, os terroristas islâmicos; tudo é noticiado e explorado nos telejornais americanos. Que interessam as estatísticas, que demonstram uma diminuição da criminalidade, e da grande maioria dos perigos que as pessoas enfrentam no seu dia-a-dia. Inquéritos nesse país mostram que as pessoas estão cada vez com mais medo, o que também se pode comprovar se tomarmos o que passa nas notícias como reflexo do interesse da audiência (gerando um processo auto-sustentado), ou se olharmos para o crescimento dos gastos em segurança pessoal, essencialmente redundantes.
É interessante confrontar com a situação portuguesa. O que vemos nós de forma exagerada nos telejornais? Essencialmente desgraças. Casos extremos de pobreza e miséria humana, por vezes apresentados sem qualquer réstia de pudor. Exageros típicos e bastante próximos da situação norte-americana. Apesar da pobreza ter vindo a diminuir e as dificuldades de hoje serem menores, comparadas com as de há uns anos atrás (até esta recessão foi uma brincadeira), o tempo dedicado à miséria não pára de aumentar.
E se nos Estados Unidos verificamos uma demonização de todos estes perigos, reais ou imaginários (como foi o caso das abelhas assassinas, curiosamente “africanas”); é de esperar que o mesmo aconteça em Portugal. E quando este medo da pobreza atingir níveis incomportáveis, as pessoas, inicialmente compreensivas e emocionáveis perante a miséria, procurarão o isolamento e evitarão o confronto com esta realidade. Se nos Estados Unidos grupos de pessoas fecham-se em subúrbios e condomínios cercados, por vezes, armados; em Portugal não tardará a acontecer o mesmo. Num país evita-se a "insegurança", noutro evitar-se-á a "miséria". Os pedintes, os do rendimento mínimo garantido e os outros; por agora ficam à porta das nossas casas, nas nossas cidades. Até serem expulsos de vez para um lugar incerto, e só os passarmos a ver através da televisão.