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13.2.03

Empresários

«A gestão moderna e responsável não é compatível com o secretismo, nem com o escamotear dos problemas, sobretudo quando estão em causa pessoas. As pessoas não são coisas, as pessoas não são números. (...) Não se pode tolerar o silêncio ou a falta de verdade sobre as intenções das empresas, não se pode aceitar que a invocação constante de conceitos como reestruturação, reconversão, mudança de equipamentos sejam, ou possam ser, palavras usadas apenas para disfarçar decisões de encerramento».
Jorge Sampaio

Grande consenso em relação às palavras recentes do presidente da Républica. É necessário haver responsabilização dos empresários pelos seus actos e a conversa das férias é vergonhosa.

Falou-se também de criminalizar os empresários que não pagam os salários depois da empresa entrar em falência.
O problema é mais que conhecido. Quando uma empresa é constituída por sócios de responsabilidade limitada (em caso de falência o máximo que estes perdem é o valor do seu investimento), face a dificuldades financeiras há incentivos perversos a correr riscos. Poderá ser óptimo para os decisores adoptar um projecto que, apesar de ter um retorno esperado médio negativo para a empresa, seja positivo para os seus sócios (estes têm os seus patrimónios protegidos das dívidas da empresa, no caso de falência pagam zero, no caso de recuperação da empresa ganham mais que zero => retorno médio positivo).
Uma vez que o retorno deste projecto será negativo em média, a probabilidade de esta empresa entrar em dificuldades é maior que a de recuperar. Se juntarmos a isto um grande número de empresas, ficamos com alguns casos de falência que põem em causa as remunerações de trabalhadores (que muitas vezes não estão no topo da lista de credores). Parece-me que se a empresa tem mesmo que fechar, o melhor é avisar os seus trabalhadores quanto antes, em vez de aguentar e arriscar durante uns meses, com resultados finais - pelo menos em média - maus.
Há alguns mecanismos para tentar resolver este problema, estudados pela Corporate Finance, mas no caso das pequenas empresas é extremamente complicado conseguir um comportamento socialmente óptimo para as empresas em dificuldades financeiras sérias. A responsabilização dos empresários poderia ser um passo, mas teria sempre que se confrontar os benefícios sociais desta medida com os custos da diminuição dos incentivos a investir devido a tal legislação.


«Há empresas que não têm condições, nem viabilidade, que já deviam ter fechado ou nem deviam ser empresas. Portanto, ninguém faz isso por maldade, ninguém faz isso com o sentido de prejudicar terceiros, faz isso porque muitas vezes já não pode mais, já não tem condições para continuar a desenvolver. Se houver esses casos prendam as pessoas, punam as pessoas exemplarmente, porque nós precisamos disso.»
Ludgero Marques, presidente da Associação Empresarial de Portugal

Esta afirmação aplica-se ao exemplo descrito em cima. É claro que os empresários não fazem por mal, eles tentam apenas maximizar os seus ganhos. Mas isso não significa que se trate dum comportamento socialmente desejável. De resto, fica-lhe bem concordar com as propostas de responsabilização.