venda-se!

Um blogue de ensaio e erro sobre Economia.

Contacto

aputadasubjectividade
Pop Chula
buzina

24.10.03

Um minuto no parlamento

Telejornal. Tal como muitos portugueses, assisto com gosto ao minuto de parlamento do dia. Hoje vi Bagão Félix assanhado a refugiar-se na inteligência (ainda que tenha sido bastante burro), seguida de um: "vocês não querem ouvir". Realmente, o homem não tem muito jeito para aquilo, e aposto que perdeu o debate do dia para grande parte da população portuguesa.
Pior que tudo, perdeu contra uma Odete Santos que estava a lutar para construir uma frase que envolvesse uns quantos números que tinha apontados num papel. Foi penoso, mas finalmente conseguiu formular uma pergunta ao senhor ministro, acusando-o de mentir ao mesmo tempo. Vou ser simpático para Bagão Félix. A pergunta era estúpida. A acusação de mentira, só teria cabimento se a senhora Odete fosse mentecapta. Passo a explicar.
Falava-se de desemprego. Bagão terá dito (presumo... não vi hoje, mas já o vi a dizer noutras alturas), que o pior já passou, e que o número de novos desempregados tem vindo a diminuir. Terá tido a ousadia de dizer que as coisas estão finalmente a melhorar. Odete Santos pega por onde pode e pergunta ao ministro como é que as coisas estão a melhorar se o Eurostat diz que o desemprego em Portugal aumentou cerca de dois pontos percentuais.
Falavam de coisas diferentes. Era tão fácil desfazer o equívoco. Mas Bagão quis complicar. Não ajuda que quando fale pareça estar sempre na evasiva, por causa daquele estilo nervoso. De qualquer forma, Bagão passa a explicar que não tinha mentido não senhora, que ele tinha referido apenas a diminuição da segunda derivada (ou terá sido "um efeito de segunda ordem"? Se foi, é ainda pior...). Risos no parlamento. A minha mãe, ao jantar, faz uma careta. Mais risos no parlamento. Ouve-se Bagão a dizer "vocês não querem ouvir" e acaba a peça. Pouco depois expliquei à minha mãe o que era aquela coisa da segunda derivada (já agora, disse que era a aceleração do desemprego, isto é, que apesar do desemprego continuar a aumentar, aumenta cada vez menos).
Então, senhor Bagão? Ingenuidade? Estupidez? Cansaço de repetir sempre a mesma coisa? A verdade é que muita gente ficou com a ideia que mentiu realmente. Outros até acreditam que não tenha mentido. No entanto, como explicou usando um conceito que quase ninguém percebeu - nem os senhores deputados que até são doutores! - deve ter feito asneira da grossa. O facto da peça ter acabado logo de repente, também deve ajudar o equívoco.
Enfim, senhor Bagão. O senhor é um católico dedicado. Sempre que tiver que falar para um grupo de pessoas, lembre-se do seu Deus, e fale a linguagem das crianças. Aposto que gosta que Ele o faça. Sendo assim, só tem de fazer o mesmo aos outros. E sim, estou a falar de deputados e jornalistas, da criançada toda...