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20.3.03

Em relação ao texto de Sarsfield Cabral, comentado no Intermitente.

É bonito ver este senhor a confundir investimento público com a construção de casas (quanto ao euro 2004 já estamos de acordo, mas agora já são custos afundados..). A redução das despesas de Investimento público, que foi e é essencial para conseguir os valores desejados para o défice, é indesejada. E devia ser para qualquer economista, de qualquer campo ideológico.
Portugal, localizado na periferia da Europa, está fortemente dependente das suas redes. Dos transportes à comunicação, são essenciais para conseguir um crescimento baseado nas exportações. O Keynesianismo defende que, em períodos de recessão se deve aumentar os gastos públicos para atenuar dificuldades privadas. Isto estimula o Consumo Privado (Se as famílias estão sobre-endividadas era boa altura para se pagarem as dívidas. Não era bom para a economia? Os bancos agradeciam.). Assim, se estes gastos forem focalizados para a modernização do país, este ficará mais atractivo para o investimento e para o sector privado. Eu concordo com a urgência das reformas da Justiça e da Administração Pública, mas é importante dizer que só se reduziu o investimento público porque teve mesmo que ser. E eu bem preferia que se tivesse cortado na despesa corrente, especialmente nos salários. Acho que o Estado devia assumir uma outra postura, se ter empregados estatais a mais é uma espécie de acção social, há outras formas (melhores) de o fazer, através de subsídios e transferências às famílias e também às empresas, via corte de impostos (teoricamente há espaço para os dois). Ou seja, sem impor os custos de burocracia e ineficiência que hoje se assistem em parte da função pública.
Quanto ao Keynesianismo, ao que parece foi bonito. Houve até quem sonhasse com a eliminação dos ciclos económicos, através duma mistura de política monetária e orçamental. Entretanto, o Keynesianismo falhou redondo no primeiro choque do petróleo (descobriu-se que existia uma coisa chamada Oferta que também era importante) e há muito que foi desconstruído. Mas a má vontade primária, essa fica para sempre.

PS: Podem notar alguma fé da minha parte na intervenção pública. A sensação que tenho - bem ensinado pela teoria de Public Choice - é que a melhor forma do estado de intervir na Economia ainda não foi aplicada. Ou seja, grande parte do que aconteceu até agora tem sido efectuado por incompetentes (calma, estou a exagerar). Certos liberais reclamam que esta razão é mais que suficiente para pôr de lado esta conversa (eles estão a falar do governo. não de todo o governo, mas na economia estão perto disso). A questão é que eles é que têm uma fé desmedida na mão invisível do mercado, que está neste momento tão descredibilizada como o modelo soviético. Nada melhor que assumir que cada caso é um caso, cada situação requer uma abordagem específica e depois somar tudo e ver o que dá.

PS2: Mais logo há uma conferência na minha faculdade com o Ministro da Economia. O tema é "A Reforma Económica em Portugal". Quem já viu, noutra faculdade, diz-me que é *apenas* acerca da criação de condições para um crescimento de Longo Prazo, na linha do que Sarsfield Cabral referiu. Resta saber se é porque tem que ser, ou é apenas o "melhor" que eles podem fazer. Aposto na última.