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19.4.03

Iraque, cristianismo e organização política

A formação de um novo governo Iraquiano ressuscista a discussão sobre as formas de governo, nomeadamente sobre a questão de que forças deverão fazer parte do órgão de gestão máxima de um país. A religião, numa zona tão crítica quanto a do médio oriente, tem certamente um papel a desempenhar. À primeira vista parece-me que qualquer credo deverá ser afastado dos órgãos políticos. Justificar isto torna-se, no entanto, bem mais complicado.
Gostava no entanto de tratar o problema numa perspectiva nacional ou, se quiserem, no âmbito das sociedades ocidentais e do papel da participação da Igreja Cristã nos órgãos de soberania. Esta é uma discussão antiga, mas ainda simples questões como as que se seguem levantam acesas discussões e não apresentam respostas evidentes: Não deveria ser a religião cristã ensinada nas escolas? Afinal de contas somos um país maioritariamente católico, será natural que os pais queiram dar essa educação aos filhos... Para além do mais é uma disciplina de carácter optativo, no entanto a verdade é que é ensinada em escolas públicas, financiada com o dinheiro de todos (mesmo o dos não católicos). Mas então e as outras religiões? Não terão os pais direito a ensinar os seus filhos os seus credos também? Bom, responder a isto com critérios econónimos de custos ou de maiorias parece-me inaceitável pelo que não gastarei mais tempo com isto.
Servem estas questões apenas para ilustrar o quanto complicado torna-se responder a isto. Quanto mais a questões de organização política e presença religiosa! Gostaria de, nas linhas que se seguem, expor um conjunto de ideias que permitam enquadrar a linha de raciocíno sobre a qual julgo que isto deve ser pensado, defendendo no final uma total separação destas instituições (mesmo para estas questões da escola).


Um dos principais erros do século XX terá sido provavelmente a emergência do positivismo ético nomedamente através do ideal historicista de Marx. Esta atitude que nega a existência de valores para além daqueles que existem na própria época justificaram as barbáries feitas em nome do proletariado, já que era essa a «verdade» da época. O mais intrigante disto tudo é que, sob esta perspectiva, simplesmente não podemos exigir responsabilidades aos senhores responsáveis destas atrocidades tal como nada podemos dizer acerca da escravatura dos africanos, simplesmente porque os nossos valores morais são temporais, diferentes portanto com a época histórica!
É aqui que surge uma das principais virtudes do cristianismo ao reconhecer uma verdade que é independente do Homem e por isso intemporal e absoluta. A existêcnia dessa lei natural, que todos reconhecemos ainda que não o admitamos, parece óbvia. O problema surge quando a tentamos definir uma vez que ela não vem escrita em lado nenhum e nenhum Homem a pode proferir simplesmente porque ela não pode ser ditada por ninguém. Estamos assim, ao que parece, num impasse e pior do que isso parece que a existência desta tal verdade universal de nada serve porque ninguém sabe muito bem ao certo o que ela é...
Enganam-se porém, pois o importante no reconhecimento desta lei é o facto de ela ser independente dos homens. Esta independência é que irá permitir o constante aperfeiçoamento do conhecimento através de ensaios e erros. No plano político será o seu reconhecimento que irá permitir a alternância dos governos sem a recorrência à violência. Penso ser esta a melhor qualidade do liberalismo, a humildade de compreender que poderão existir alternativas melhores e permitir que estas possam surgir, algo que não vemos certamente nas doutrinas socialistas.
Mas onde entra então o cristianismo. Até aqui tudo bem. No entanto o cristianismo é precisamente uma resposta as perguntas sobre o conteúdo da lei natural, e a resposta é simples: a verdade está na bíblia e na vida de Cristo. Sendo uma resposta à lei natural o cristianismo perde a virtude essencial que já tínhamos evidenciado atrás. A lei natural passa a estar determinada e não mais é possível o funcionamento do mecanismo de ensaio e erro. Não pretendo obviamente entrar na discussão, mais interessante, acerca da adequação ou não da proposta cristã ao Homem. Mas penso que isto torna evidente a necessidade de afastar política da religão. Especialmente porque uma vez no poder as autoridades da igreja revestidas de uma autoridade supra-natural intesificam a sua «legitimidade», e os resultados disso já todos conhecemos.